segunda-feira, 22 de outubro de 2012

MEUS RELATOS...


PROF. EDIVALDO BISCASSI
MINHAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS COM LEITURA
Eu tenho tantas histórias para contar que daria para escrever um livro, mas vou me apegar nas minhas séries iniciais. Eu vinha de uma pobreza extrema, uma vida difícil mesmo, não fiz a pré-escola porque o material solicitado era muito caro, mas eu tinha um diferencial muito grande, uma mãe amorosa que mesmo com todas as nossas dificuldades e de seu pouco estudo, ela só tem a 4ª série primária, desde muito cedo me ensinou a ler e escrever, lembro-me que ela pegava os saquinhos de Qsuco que continham no verso um desenho e frases curtas, e foi com este material que ela me alfabetizou por volta dos 4 anos de idade, me recordo de algumas frases como "a união faz a força" e "antes só que mal acompanhado".
Depois passamos para as caixas de maisena, sabão em pó, latas de extrato de tomate, etc...Quando cheguei então na primeira série, ficávamos vinte dias fazendo período pré-operatório, eu superei todas as atividades oferecidas e fui colocado na turma que havia feito a pré-escola, nem sei se isso foi bom, eu estava além daquelas crianças, mas minha pobreza também ia além, enquanto todos iam de sapato colegial para a escola eu ia com minha conga sete vidas, todos tinham bolsas e mochilas e eu um embornal de pano, no lanche todos gastavam na cantina e eu comia meu pão com manteiga (derretida do calor), eram muito gritantes as diferenças.
Tem uma história que sempre que me lembro, eu ainda choro, por mais que eu tente eu nunca consegui esquecer esta cena, todos os amiguinhos tinham caixas de lápis com 24 cores, minha mãe lavava roupa para fora, e ela me prometeu já com um mês de aula que me compraria uma caixa de lápis de cor, mas eu não disse que eu tinha em mente ter uma caixa igual aos dos outros, no dia que ela recebeu da patroa ela me disse de manha que iria na cidade comprar e eu pedi que ela me levasse na hora do recreio, fiquei na tela da escola o recreio todo esperando e ela se atrasou.
Quando cheguei em casa caixa de lápis estava embrulhadinha em cima da cama, com papel de presente, era uma caixinha muito pequenina com seis lápis, coitada de minha mãe ela comprou para mim aquilo que ela conhecia, aquilo que ela teve quando criança, ou aquilo que nosso dinheiro dava para comprar. Nunca falei com ela sobre este fato, alguns amiguinhos me emprestavam seus lápis de cor para que eu não gastasse os meus,  para que  não acabassem logo.
O tempo foi passando, fui me tornando cada vez mais um bom aluno, minhas composições, textos, provas eram as melhores da classe, eu tinha o respeito de meus amiguinhos. Eu participava de tudo, do grêmio estudantil, dos desfiles comemorativos e lia com perfeição as poesias das comemorações cívicas.
Fui um destaque na escola, comecei a trabalhar em um escritório com 12 anos de idade (época que meu pai nos abandonou), sofremos muito, mas todo dinheiro que sobrava eu comprava em livros, juntei muito e comprei a coleção do TRÓPICO, foi onde me joguei no mundo da leitura descobri sozinho um universo de conhecimentos acumulados pela humanidade. Eu também frequentava muito a biblioteca pública para ler fábulas, contos e toda a obra de Monteiro Lobato.
O tempo passou, venci com muito esforço, hoje sou efetivo em dois cargos de História, e há seis anos atuo como coordenador pedagógico, onde a leitura e os estudos fazem parte do meu cotidiano.
De tudo eu só tenho que agradecer a Deus que me deu olhos para ler, a minha mãe que me alfabetizou, as professoras primárias que me levaram para um caminho de estudos e aos meus amigos que desde pequenos me deram força. Posso dizer hoje que sou fruto de muitas barreiras vencidas.

Um comentário:

  1. Olá Edivaldo!!! Muito bom seu blog!!! E sua história uma lição de vida. Eu também estou no curso e também estou elaborando o nosso blog. Eu já tenho um blog se você quiser visitar, lá conto minha história é www.cristinapaiva.blogspot.com
    Um abraço!!!

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