segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Depoimento de Práticas de leitura e escrita - Márcia Aparecida Carvalho Pozzato

Bom dia Ana  Júlia
A minha primeira experiência com a leitura aconteceu quando eu tinha cinco anos de idade e estudava no Jardim da Infância no Grupo Escolar Fazenda Amália, uma fazenda que era propriedade, na época, do Conde Francisco Matarazzo; essa fazenda fica localizada a 20 quilòmetros da cidade onde moro: Santa Rosa de Viterbo e, hoje, a proprietária é a sua filha, Maria Pia Matarazzo.
A professora do Jardim da Infância, chamada Ivete, trabalhava muito com a leitura de Histórias infantis e ensaiava a dramatização das histórias lidas. Fazíamos vários teatrinhos e recebíamos agrados e elogios.
Nessa época, ganhei da professora Ivete, o livro infantil Pinóquio, que tenho até hoje, por me destacar nas dramatizações.
No período da tarde, eu e minhas amigas íamos para o "quartinho da irmã Amância", uma freira que morava e trabalhava no hospital São Francisco de Assis, cuja função era dar aulas de "boas maneiras" e de teatro para os filhos dos moradores da Fazenda Amália.
O meu pai era funcionário da Agro Industrial Amália e, por esse motivo, tínhamos alguns direitos e privilégios
A irmã Amância também nos ensinava a fazer alguns bordados, dava noções de crochê, mas o seu trabalho era direcionado ao mundo dos livros. Líamos muitas histórias e ouvíamos a leitura de contos de fadas, com total silêncio e concentração; era uma delícia essa prática.
Fazíamos os teatrinhos e íamos apresentar, com direito a aplausos e plateia, no cinema Dom Joanico e no Grupo Escolar da Fazenda Amália.
O canto foi outra prática bastante desenvolvida pela irmã e que deu muito certo em minha vida.
Fiz a primeira comunhão com seis anos e não sabia ainda ler adequadamente, mas sabia cantar, e isso bastava.Os meus pais autorizaram  e eu cantei para coroar e colocar a palma em Nossa Senhora de Fátima, como símbolos de louvor e agradecimento.
Aos sete anos, iniciei os estudos no Grupo Escolar e lá estudei até o quarto ano. Praticamente todos os dias, na hora do recreio, que era de trinta minutos, ia conversar com a irmã Amância para combinarmos o dia, na parte da tarde.
A minha infância foi marcada por leituras, dramatizações,cantos e danças e fui uma criança feliz!
Quando iniciei o ginásio na E.E.P.S.G. Conde Francisco Matarazzo,em Santa Rosa de Viterbo, entrei em contato com a literatura infanto-juvenil, os clássicos de Monteiro Lobato, e, na 8ª série, minha professora de Português, Eunice Cicolani, me incentivou a ler os clássicos da literatura brasileira. Solicitou a leitura de Dom Casmurro de Machado de Assis e fez um projeto de leitura, que consistia em ler integralmente o livro, endender o tema e participar de um debate regrado, no Fórum  de nossa cidade. Esse debate foi assistido e analisado por professores, pela coordenadora, pelo diretor e o vice-diretor da unidade escolar e, contou também, com a participação de alguns pais de alunos envolvidos no projeto.
O tema em discussão foi a "possível" traição de Capitu em relação a Bentinho.
Lembro-me, com gostinho de saudade, do nervosismo, do entusiasmo e da magia que nos permitiu "defender" e "acusar" os protagonistas de uma trama fantástica.
O meu grupo ganhou o debate, entendemos que Capitu não traiu Bentinho e que toda a "trama" se deu aos olhos de Bentinho e de sua "casmurrice". Foi incrível e inesquecível essa experiência.
Decidi fazer Letras, na F.F.C.L. Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, para aprender mais sobre a Língua Portuguesa e a sua literatura.
Tive bons professores e incentivadores: Glória, professora de Português, foi um exemplo de pessoa e educadora. Eu tinha um defeito: fazia a prova a lápis, lembro-me de provas corrigidas com a seguinte observação: "Márcia, faça a prova à tinta!"
Muitas vezes, a questionava e dizia que "isso" não tinha importância; o importante era o meu conhecimento: tirava excelentes notas: 9,5 - 10 ( um espetáculo).
Na época da Faculdade, a prática de leitura era muita difundida pelos professores; tenho guardado na memória, o perfil de minha professora de Literatura Brasileira: Cecília Hirono ( uma japonesa, baixa estatura e muito inteligente) que desenvolveu com toda a classe o gosto e o hábito pela leitura, ela dizia que a leitura é essencial para compreendermos a nossa essência, isto é, para conhecermos melhor a nós mesmos e aos outros, porque, muitas vezes, as histórias escritas pelos escritores nos mostram exemplos de ações a serem seguidas e entendidas como valores que ficarão para sempre em nossa memória.
A partir do meu ingresso no Magistério, cultivei o hábito pela leitura dos clássicos da literatura brasileira, portuguesa e universal, incentivo os meus alunos a praticarem a leitura como "subsídio" para a formação de valores e construção do conhecimento.
A leitura nos faz pessoas melhores e mais felizes, nos ensina a conviver com os desafios e nos fortalece como pessoas.
Nas férias de Julho, li A Cabana de William P. Young e me encantei com a história e com a harmonia e a delicadeza que se deve encaminhar a nossa vida e entendê-la.
Comecei a ler O Mundo de Sofia ( Romance da história da Filosofia)  do autor Jostein Gaarder e estou procurando entender toda a façanha da trama
Trabalho como PEBII de Português, com a 6ª série(7º ano), com a 7ª série ( 8º ano) e com a 8ª série (9º ano) e incentivo o hábito da leitura, mostrando o meu exemplo para os meus alunos e mostrando que o mundo dos livros é encantador e, que vale a pena conhecer e explorar.
 Vale ressaltar que é um trabalho contínuo e que constitui uma das estapas para os alunos atingirem a competência leitora e escritora.
Quero relatar a fala de uma aluna  que cursa a 8ª série na E. E. Teófilo Siqueira, em Santa Rosa de Viterbo: Maria Júlia:"Professora, depois de ler pela segunda vez o livro Dom Casmurro de Machado de Assis, eu fiquei com dúvida; na primeira leitura, eu entendi que a Capitu não traiu Bentinho, mas na segunda leitura, eu acredito que houve traição por parte de Capitu, e agora? ..."
Nesse contexto, eu aproveitei a oportunidade e disse que estava tudo "certo"; que o escritor Machado de Assis queria exatamente essa releitura de sua obra e que ele havia conseguido realizar, com os seus leitores, a verdadeira função social de uma história literária: o levantamento de hipóteses, uma compreensão possível da história, o fomento da imaginação e o gosto pela leitura de um clássico. Isso é fantástico, isso é literatura
Vejo que, de fato, a minha experiência com as práticas de leitura, desde a infância, foi fundamental para a formação da minha personalidade. Sou uma pessoa forte, porém sensível, emotiva, doce, e sobretudo, amante das boas histórias literárias e aposto em tudo que agrega "sentido" à vida.
Vejo, no Magistério, uma infinita porta aberta para a prática da leituta e escrita e, procuro, a cada dia , fazer o melhor pelos meus alunos e por mim, porque é a magia e a beleza contida nos livros, o grande pilar para uma educação com qualidade e com valores.

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